sábado, 21 de abril de 2012

Velhos Prédios, novos olhares

 
 
21/04/2012 | N° 3121 - Jornal Diário de Santa Maria

Velhos prédios, novos olhares

Por iniciativas particulares ou da prefeitura, alguns locais históricos estão sendo recuperados ou perto da revitalização

Na época em que o trem era o principal meio de transporte do Brasil, entre os séculos 19 e 20, Santa Maria virou um ponto estratégico e viveu tempos de pujança econômica, com prédios, hotéis, casarões, escolas... Quando os trens deixaram de circular, em 1996, esse passado ficou na memória. Muitas construções, que um dia foram símbolo da prosperidade da ferrovia, tornaram-se vítimas da decadência. Agora, como a Avenida Rio Branco e a Vila Belga – que passam por revitalizações –, alguns imóveis estão um pouco mais perto de ter mais sorte do que outros que já foram demolidos.

O reflexo disso já começa a ser sentido no centro histórico da cidade, onde, segundo o Sindicato da Habitação (Secovi), os imóveis estão tendo mais aceitação e os preços dos aluguéis e das vendas estão subindo.

– Antes, locais como a Avenida Rio Branco eram considerados inseguros. Hoje, as pessoas estão aceitando melhor a ideia de morar ou alugar pontos na avenida. A tendência é que a procura aumente – diz Raquel Trevisan, diretora suplente do Secovi.

Seja por iniciativas particulares ou da prefeitura, casas e prédios estão sendo recuperados ou estão perto disso. Entre eles, estão o Edifício Cauduro (onde funcionou o Hotel Jantzen), a casa da esquina da Floriano Peixoto com a Ernesto Beck e os prédios da sede da Cooperativa dos Empregados da Viação Férrea, da Associação dos Empregados da Viação Férrea e da Sociedade Recreativa Ferroviária 21 de Abril.

As ruínas do casarão comprado pelo jornalista Marcelo Canellas (cronista do Diário) que estampa esta página é uma prova de que nem sempre a saída depende do poder público. O local tem um projeto de reforma para ser a sede da TV OVO – Oficina de Vídeo Oeste, que recebeu o espaço por meio de comodato e vem se empenhando para transformá-lo em centro cultural.

– Viajo muito e vejo a forma como vem acontecendo a retomada dos centros históricos. Cada vez que voltava a Santa Maria, me dava uma dor, porque via um desses patrimônios no chão. Decidi fazer minha parte – conta Canellas, que investiu R$ 200 mil na compra do imóvel e R$ 30 mil no reforço estrutural.

Quando o jornalista conheceu o trabalho da TV OVO, decidiu estabelecer a parceria com a oficina. Na época, pouco se sabia sobre a casa. Com uma pesquisa, descobriu-se que ela tinha sido construída na época da ferrovia, a mando do engenheiro, professor e poeta Evandro Ribeiro (1882-1960). Mais tarde, o casarão foi vendido a imigrantes libaneses. Em 1941, Olintho Danesi comprou o imóvel, onde viveu até 1980.

– Um imóvel sem uso se deteriora mais rapidamente – afirma a professora e pesquisadora Vani Foletto, integrante do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de Santa Maria (Comphic).

Segundo Vani, há cerca de cinco anos, o conselho elabora um projeto que trata da preservação dos prédios históricos e dos tombamentos. Diversas entidades participaram do documento, que depende da aprovação da Câmara de Vereadores.

– Quem compra um imóvel com essas características históricas precisa respeitá-las – afirma Vani.

A discussão também veio à tona em janeiro, com decreto da prefeitura manifestando interesse em imóveis abandonados da cidade (como os já citados neste texto, com exceção da casa de Canellas), seguido de outro datado de março, que manifesta a intenção de arrecadar o Condomínio Edifício Galeria Rio Branco, inacabado e abandonado há 42 anos.

– Estamos analisando cada caso. Alguns imóveis estão com o IPTU em dia, mas não estão sendo usados. Por isso, estamos estudando a possibilidade de um imposto progressivo para quem não der um destino útil a sua propriedade – afirma a procuradora geral do município, Anny Desconzi.

Leonora Romano, professora de Arquitetura e Urbanismo da UFSM, ressalta a importância do envolvimento comunitário:

– Quando se fala em patrimônio histórico, as pessoas devem reconhecer que, se algo é da sua cidade, é seu também e, por isso, devem ajudar a preservá-lo. Locais que estão abandonados podem oferecer risco. É hora de abrir os olhos para o patrimônio.

marilice.daronco@diariosm.com.br
MARILICE DARONCO
 
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/dsm/rs/impressa/4,1304,3733794,19447
 

2 comentários:

  1. Oi Sonia!

    Sim e esperamos que existam mais iniciativas como está para trazer mais cultura para nossa cidade.

    Abraços!

    Andrea

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Obrigada por seu comentário!!!