quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A Árvore Poética


18/08/2009 | N° 2266 - Diário de Santa Maria

GENTE

A árvore poética

Poeta transforma cinamomo em ‘porta- poesias’

Não adiantou insistir. Paulo Fernando Maciel Rodrigues não tirou fotos de jeito nenhum.

– Para quê? Já sou bem conhecido. Meus vizinhos sabem quem eu sou. Trabalhei 17 anos nos Correios, e muita gente me viu, já – argumentou.

Descobrir a idade do ex-funcionário público federal também foi difícil:

– Tudo o que fazia com 18 anos continuo fazendo hoje. Poeta não envelhece. Poeta não tem idade – afirmou, antes de confessar que completaria 62 anos, na quarta-feira passada.

Mas se tem um assunto que seu Paulo gosta de falar é sobre poesia. Escreveu a primeira aos 11 anos. Inspirado por uma aula de história fez versos sobre a Batalha dos Guararapes. Ao crescer, sua temática preferencial foi o amor – tema do qual só desvia quando decide falar de política, questões sociais ou comunitárias.

– Me considero um filósofo, livre pensador, anarquista e pretenso poeta – define-se, rindo.

Os textos de seu Paulo podem ser lidos no jornal Letras Santiaguenses, dedicado inteiramente à poesia, ou na árvore que fica quase em frente de sua casa. É isso mesmo: um velho cinamomo da Rua São José, no bairro Rosário, virou veículo de versos e crônicas escritos pelo autor ou por seus amigos. A ideia, ele conta, foi posta em prática há dois anos.

– Minha intenção era de que as pessoas tivessem acesso à poesia. Muitas delas gostam, mais não têm tempo de ler. Então, a cada semana coloco um poema diferente – explica ele.

No princípio, a plaquinha “porta-poemas” e o letreiro “árvore poética” só ficavam na árvore durante o dia, porque o poeta tinha receio de que vândalos atacassem a criação. Com o tempo, porém, seu Paulo percebeu que a aceitação da vizinhança era maior do que o imaginado.

– As crianças paravam ali na frente para ler. Teve até quem reclamasse se ele não trocasse a poesia no fim de semana – conta a irmã de Paulo, dona Lila.

– Sabe o que ajudou a popularizar a árvore poética? O contêiner que fica no lado da árvore. As pessoas vão levar lixo ali, aproveitam e leem um poema. Aliás, o contêiner é um grande socializador. Vizinhos que não se conheciam se falaram pela primeira vez ali – garante o poeta.

Apoio dos vizinhos – Os moradores do bairro apoiam e elogiam a iniciativa.

– É uma ideia interessante e bem diferente. Você vai levar o lixo e lê alguma coisa. É bom para a cultura da gente – diz o comerciante João Oliveira, 49 anos.

A estudante Paola Roratto, 18 anos, musa de alguns poemas de seu Paulo, também reconhece a validade da criação, especialmente porque valoriza a alma sensível do poeta:

– Com a árvore poética, o pessoal fica sabendo como o Paulo é inteligente e sabe do dom que ele tem.

Quando não está escrevendo, seu Paulo se dedica à reciclagem. Usando cola e pregos, transforma e dá novos usos a móveis usados. Velhos tijolos tirados de sobras de construções formaram o muro de sua casa, que tem horta e jardim cultivada por ele mesmo.

– Sou um transformador, um reciclador. Poesia é isso – diz o pai da árvore poética.

tatiana.dutra@diariosm.com.br

TATIANA PY DUTRA

POST SCRIPTUM Menos mal que a eleição
Dispensa iluminação
Pois corre em hora diurna.
Fosse à noite, o cidadão,
Com a semiwescuridão,
Talvez não achasse a urna.

Nosso dever é cumprido
pelo tal voto impingido
Para que alguém seja eleito,
Plantem hoje pro futuro,
Livrem a rua do escuro,
Clareiem nosso direito.

Tentem mostrar competência
Ou, no caso, complacência,
Se é que o dever é tão fútil,
Que a gestão não faça rima
Com a lâmpada, aí, acima
– Tão queimada quanto inútil


A árvore
Cinamomo é o nome vulgar de dois tipos de plantas. Uma é cinnamomum canphora da família das lauráceas, da qual faz parte as árvores do abacateiro e da canela. A outra, melia azedarach, conhecida como amargoseira ou sinamão, dá frutos redondos, tóxicos para seres humanos e animais

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/dsm/rs/impressa/4,1300,2621188,12942, em 19 Ago 09, às 11h37min

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